sexta-feira, 3 de abril de 2009

Psicologia do Desenvolvimento Humano e a Educação ao Longo da Vida

Pois bem, vivendo e aprendendo. Certo? Nunca o terá sido tanto como hoje. Ultrapassados os tempos em que a apreensão do conhecimento possuía uma idade limite, entendemos hoje que o tempo de vida útil de um indivíduo, é todo ele uma tela onde imprimirá a sua evolução, enquanto ser único e social, utilizando todos os adquiridos da sua existência.
Se entendemos que a cada indivíduo corresponde uma estratégia educacional, porquê só agora entendermos que cada indivíduo comporta diferentes momentos, e que a esses diferentes momentos deverá corresponder uma diferente estratégia educacional.
Confuso? Vamos a ver. Se considerar-mos que o animal homem, o macaco nú de Desmond Morris, carrega à priori tudo aquilo que o define, então consideraremos que nada poderá ser feito em termos educacionais, poderá ou deverá, pois que na essência não existirá uma modificação no individuo.
Se por outro lado considerar-mos que o desenvolvimento será um processo continuo ao longo da vida, teremos que considerar a educação, ao longo da vida, como um factor indispensável desse mesmo desenvolvimento.
No entanto a diferentes momentos vivenciais deverão, como referi, constituir-se diferentes settings. Hoje entendemos que o desenvolvimento humano comporta variáveis como o pessoal, familiar, social, económico, tecnológico e educacional, assim vamos desenvolvendo estratégias que nos possibilitem abordar o individuo no seu todo tentando contribuir para esse mesmo desenvolvimento de diversas e multifacetadas formas.
Exemplo, a nível educacional, da escolaridade para todos, do aumento da escolaridade obrigatória, das diferentes formas de agir face aos abandonos precoces, das universidades para a terceira idade, formação profissional, dos CET, dos CEF, dos PIEFe de todos esses modelos que permitem por um lado garantir um contínuo de aprendizagem e por outro remotivar os que por algum percalço se desviaram do entendimento comum do que deve ser um percurso educativo. Estes factores derivam de um diferente entendimento da realidade, somos o animal que mais tempo depende dos progenitores, que mais tarde procria, ao mesmo tempo temos aumentado a esperança de vida, temos diferido o fim da chamada vida activa. Somos um animal gregário que aglutina em seus redor todos os “diferentes” tipos da sua espécie, brancos e pretos, homens e mulheres, altos e baixos, religiosos e ateus, patriarcais e matriarcais, capacitados e incapacitados, e mesmo assim sentimos que todos somos um só. Este facto aliado á permanente necessidade de aquisição de novas competências formata a necessidade de reavaliação do sistema educativo naquilo que tem sido o seu papel tradicional, o de transmitir instrução pura e dura. Estamos obrigados a construir uma educação que contribua de forma inequívoca para o bem-estar pessoal e social, uma educação integradora que ao mesmo tempo dê resposta às necessidades de um desenvolvimento coerente e universal. É certo que o desenvolvimento humano, enquanto momento social, e fotograficamente falando, é um fotograma datado, quer dizer o seu entendimento depende da história, é interpretado de forma diferente ao longo dos anos e por diferentes entendimentos. Assim os modelos educacionais também se transformam, conformando-se com o saber, e saber fazer, do momento em que se enquadram. Estamos num momento em que o individuo é entendido como sujeito capaz de aprendizagem ao longo de toda a sua existência, compreendemos que esta é constituída por diferentes momentos, faltará porventura criar condições para que este possa reverter para a sociedade todo este know-how. O papel dos mais velhos, ou menos novos, parece ser o de objecto educativo e não de sujeito da sua própria educação. Não gostaria de acabar sem manifestar um receio, o alongamento de um percurso académico, como o actual, ao longo de quase vinte cinco anos, se não for acompanhado de uma visão educacional que prevaleça para além da instrução, corre o risco de criar seres dependentes, sem capacidade afectivo-relacional, incapazes de contribuir para o desejado desenvolvimento integral e universal.

“ De pequenino se torce o pepino”

Este provérbio é sem dúvida, para mim claro que sou clarividente, uma recta sem fim. Se por um lado significa a não existência de um limite para o conhecimento, e para o desenvolvimento humano, por outro a minha vontade de agradar a quem acredita que o ser não se esgota no seu invólucro terreno.
Desde tempos imemoriais que a mole, a que se designa como povo, desenvolveu a capacidade de interpretar a vida, nas suas múltiplas facetas, e lhe atribuir significados traduzindo-os para uma linguagem acessível ao conjunto dos seus membros. Um conhecimento pleno de verdades implicitas que por vezes só centenas de anos após podemos enfim validar.
Entendo como este povão, que o ser humano deve de ser interpretado desde a mais tenra idade. Se é certo que o ser desejado, planeado e acompanhado durante a gravidez é fundamental para o indivíduo, também é certo que após o primeiro grito ele está pronto para iniciar a sua aventura social. É nos primeiros anos de vida que adquirimos a nossa consciência social, quem somos aqui, qual o papel que representamos e que esperam de nós. De pequenino apreendemos as normas, os signos, os significados, a rir e a chorar, a interpelar e a responder. Se torce o pepino pois o crescimento, ou será desenvolvimento, implica aquilo que costumo referir como dores de crescer, a apreensão dos valores, a compreensão dos limites, tudo o que nos será condicionante à vontade de ser mais ou diferente. Torcidos pela máquina comum, adequados a uma realidade pré-existente, formatados num sistema que ainda assim nos irá permitir desenvolver o eu que existe em cada um.
Este será por ventura um provérbio que poderá representar, de forma adequada, a noção de adquirido nas teorias do desenvolvimento humano. O individuo deverá ser intervencionado desde tenra idade de forma a integrar conhecimentos, experimentar afectos, desenvolver emoções. Torcer o pepino, desde pequenino, e em cada volta incluir a cultura, a relação familiar, a relação social, a economia, a jurisprudência, a e a e a e a, enfim a humanidade.

Questões sobre o desenvolvimento

- Qual o papel da família no desenvolvimento do ser?
- Qual o papel da linguagem nesse desenvolvimento?
- É mais importante o que sou ou o que poderei vir a ser?
- De que forma o conhecimento condiciona a existência?
- Existe limite ao desenvolvimento do ser?